Ao me aprofundar nos estudos sobre o
feminismo, iniciei uma jornada íntima de descoberta e compreensão das múltiplas
camadas de opressão que nós, mulheres, muitas vezes enfrentamos sem sequer
perceber. Essa jornada tornou-se particularmente significativa ao refletir
sobre os papéis de mãe e esposa em minha própria vida, papéis esses
frequentemente idealizados, mas que também carregam um peso enorme de
expectativas e demandas.
Essa compreensão me fez refletir sobre
como as escolhas que fiz em função da minha familia e do desenvolvimento profissional do meu
marido impactaram diretamente no meu crescimento pessoal e na minha carreira,
que evoluiu muito mais lentamente do que a dele.
Durante quase vinte anos de casamento,
eu e meu marido fizemos escolhas conjuntas que, na época, pareciam ser as mais
acertadas para o nosso bem-estar coletivo. Naquele contexto, onde o salário
dele era superior ao meu, aceitei, talvez um pouco ingenuamente, que os avanços
na carreira dele beneficiariam a todos nós, considerando isso um investimento
no “nós” que construímos juntos.
Contudo, olhando para trás, vejo como,
em muitos momentos, coloquei minhas ambições e meu desenvolvimento pessoal em
segundo plano, influenciada pela crença de que apoiar o progresso profissional
dele era o melhor para todos nós.
O feminismo abriu meus olhos para
questionar essas decisões e perceber como estavam entrelaçadas com as
estruturas patriarcais que moldam nossas vidas, muitas vezes nos relegando a um
papel secundário. Esse entendimento se aprofundou ao refletir sobre a ideia hipotética de um divórcio, que
ilustra vividamente como as desigualdades podem se solidificar e emergir em
momentos críticos de mudança.
Refletindo sobre minha posição de mulher
branca e de classe média, reconheço meu privilégio e peço espaço para dialogar
sobre como essas disparidades não são meras coincidências individuais, mas sim
reflexos de um sistema que desvaloriza sistematicamente as mulheres. Apesar de
legalmente termos direitos iguais à divisão de bens, a realidade é que as
escolhas que fizemos, pensando no coletivo, afetam desproporcionalmente nossa
independência financeira e nosso crescimento profissional. E esse é um ônus
injusto que é suportado principalmente por nós, muheres.
Nesse percurso de autodescoberta com o
feminismo, não encontrei apenas uma crítica ao que é injusto, mas também uma
comunidade de vozes que ressoam experiências e desejos semelhantes. Esta
jornada se tornou um caminho de significado profundo para mim, não apenas
teórico, mas vivencial. É sobre reconhecer minha história e lutar por um futuro
em que eu possa honrar minhas necessidades e valores, integrando-os à busca
coletiva pela igualdade e justiça para todas nós.
Texto por Camila Paul